Twitter and Tear Gas: The Power and Fragility of Networked Protest

Zeynep Tufekci
New Haven: Yale University Press, 2017
352 páginas

Resenha por: 

  • Dra Zilda Maria A. Matheus
  • Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
  • E-mail: contat@naturoinstitute.org

Em Twitter and Tear Gas: The Power and Fragility of Networked Protest, Zeynep Tufekci apresenta uma análise lúcida e multifacetada sobre como as redes sociais revolucionaram a organização e a dinâmica dos movimentos sociais contemporâneos. Tufekci, socióloga e especialista em tecnologia, constrói um panorama que é ao mesmo tempo otimista e crítico, examinando tanto o poder quanto as limitações dessas novas formas de mobilização.

Os Paradoxos da Conectividade
Um dos pilares da obra é a capacidade das redes sociais de promover mobilizações rápidas, descentralizadas e massivas. Exemplos como a Primavera Árabe, o movimento Black Lives Matter e os protestos em Hong Kong ilustram como plataformas digitais como Twitter, Facebook e WhatsApp deram voz a grupos marginalizados e permitiram a coordenação de ações antes inimagináveis.
Tufekci argumenta que as mídias sociais alteraram profundamente o custo da mobilização: o que antes demandava anos de organização e infraestrutura pode agora ser alcançado em questão de dias. No entanto, essa mesma conectividade traz um paradoxo: enquanto os movimentos são capazes de emergir rapidamente, a ausência de estruturas internas sólidas e lideranças articuladas muitas vezes limita a capacidade de transformar protestos em mudanças políticas duradouras. Esse fenômeno, que a autora chama de “fraqueza tática”, é uma das fragilidades centrais discutidas no livro.

O Papel dos Algoritmos e a Manipulação dos Protestos
Um aspecto particularmente relevante, mas frequentemente subestimado, é a influência dos algoritmos sobre os movimentos sociais. Tufekci aprofunda-se no funcionamento das plataformas digitais, mostrando como os algoritmos não apenas amplificam, mas também distorcem os debates públicos. A lógica algorítmica prioriza conteúdos emocionalmente carregados — muitas vezes polêmicos ou polarizadores —, o que pode exacerbar divisões dentro dos próprios movimentos e entre diferentes grupos sociais.
Além disso, a autora alerta para os perigos da vigilância digital, tanto por governos autoritários quanto por corporações privadas. Governos utilizam essas mesmas plataformas para monitorar, manipular e suprimir dissidências, transformando a tecnologia em uma ferramenta de repressão. Casos como o uso de tecnologias de reconhecimento facial nos protestos de Hong Kong e a desinformação sistemática durante a crise da Síria ilustram os dilemas éticos e políticos que emergem nessa nova era de mobilização mediada por tecnologia.

Movimentos em Regimes Autoritários: Fragilidades e Resiliência
Tufekci destaca como os movimentos sociais enfrentam desafios específicos em contextos autoritários. Embora as redes sociais ofereçam um espaço inicial para a resistência, esses regimes frequentemente se adaptam rapidamente, utilizando a própria tecnologia para reprimir os movimentos. A autora examina como as “primaveras” políticas muitas vezes se transformam em “invernos”, com repressões que utilizam dados coletados em plataformas digitais para identificar e silenciar ativistas. Isso expõe a fragilidade das estruturas de protesto baseadas exclusivamente na tecnologia.
Ao mesmo tempo, a obra não deixa de reconhecer a resiliência dos movimentos sociais, destacando como os ativistas continuam a encontrar maneiras criativas de superar essas limitações — desde a criptografia de mensagens até o uso de plataformas alternativas.

Uma Reflexão Sobre a Cultura Woke e Interseccionalidade
Embora o termo “cultura woke” não seja central na obra, os temas de justiça social, interseccionalidade e a luta contra estruturas de poder tradicionais permeiam a análise de Tufekci. Movimentos globais como #MeToo, Fridays for Future e Black Lives Matter ilustram como a conectividade digital também impulsiona debates sobre desigualdade, gênero, raça e justiça climática. Esses exemplos ajudam a contextualizar a relação entre redes digitais e a amplificação das demandas por equidade e inclusão.

Acessibilidade do Livro
O livro Twitter and Tear Gas está disponível gratuitamente em formato PDF no site oficial do projeto:
Download Gratuito – Twitter and Tear Gas
Para informações adicionais sobre seus trabalhos, os interessados podem acessar o site oficial de Zeynep Tufekci.

Conclusão: Uma Obra Essencial para Entender o Presente e o Futuro
Twitter and Tear Gas não é apenas uma análise dos movimentos sociais da era digital; é um convite a pensar criticamente sobre o impacto das tecnologias nas dinâmicas de poder e resistência. Tufekci combina rigor acadêmico com uma narrativa envolvente, tornando o livro uma leitura indispensável tanto para estudiosos quanto para ativistas e formuladores de políticas.
A obra nos desafia a reconsiderar o papel das plataformas digitais em nossas sociedades e a questionar como podemos usá-las de maneira mais estratégica e ética. Em tempos de protestos globais, desinformação e vigilância crescente, a análise de Tufekci é mais relevante do que nunca.
Recomendação:
Leitura altamente recomendada para todos que desejam compreender a interseção entre tecnologia, política e sociedade.
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