COP na Amazônia: um símbolo geopolítico e uma esperança para o planeta

Por : Dra Zilda Maria A. Matheus

A realização da 30ª Conferência das Partes sobre o Clima da ONU (COP30) em 2025, na cidade de Belém do Pará, é um acontecimento de magnitude histórica. Não apenas porque o Brasil volta a ser protagonista nas negociações climáticas internacionais, mas porque a escolha da Amazônia como sede é um gesto simbólico, geopolítico e ético de centralidade da floresta e dos povos originários na luta contra a crise climática.

Desde sua criação em 1995, a COP tem sido o principal fórum global para o enfrentamento das mudanças climáticas, promovendo acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) e o Acordo de Paris (2015) (UNITED NATIONS, 1992). Apesar de avanços pontuais, os relatórios do IPCC (2023) deixam claro que estamos longe das metas necessárias para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Nesse cenário, a Amazônia emerge como protagonista. Ela abriga mais de 390 bilhões de árvores e armazena cerca de 120 bilhões de toneladas de carbono, sendo vital para a regulação climática do planeta (IPCC, 2023).

A presença da COP em solo amazônico é um convite à escuta e à ação. Como afirma Marcio Santilli (2023), “não há saída climática sem a floresta em pé”. A visibilidade internacional dada à região permitirá que vozes indígenas, quilombolas, ribeirinhas e jovens ambientalistas ganhem força nas negociações. Espera-se a participação de mais de 30 mil delegados, incluindo chefes de Estado, representantes da ONU, ONGs e empresas do setor verde, como a presença já confirmada de autoridades como Luiz Inácio Lula da Silva, António Guterres e John Kerry.

A escolha de Belém não é apenas política, é também estratégica. A cidade se prepara com investimentos em infraestrutura verde, mobilidade sustentável e integração com comunidades locais. Esses investimentos podem servir de modelo para outras regiões tropicais em desenvolvimento.

No entanto, não se pode ignorar os riscos: o greenwashing, o protagonismo excessivo de corporações e o esvaziamento das demandas dos povos da floresta. Por isso, a COP na Amazônia precisa ser mais que um evento: deve ser um catalisador de compromissos vinculantes, investimentos reais e mudanças profundas.

Como apontam autores como Lima (2022) e Sassen (2018), o enfrentamento da crise climática exige a revisão do modelo econômico global, hoje responsável pela expulsão de populações vulneráveis de seus territórios e pela degradação ambiental. A Amazônia não pode ser o “palco”, mas o centro das soluções — com justiça climática, soberania e respeito às culturas locais.

Se a COP30 conseguir transformar essa simbologia em ação, Belém poderá marcar uma virada histórica: o momento em que o mundo finalmente escutou a floresta.

 

Referências 

  • IPCC – INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Sixth Assessment Report. 2023. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/. Acesso em: 29 abr. 2025.

  • LIMA, L. R. A geopolítica da mudança climática e o protagonismo da Amazônia. Revista Política e Meio Ambiente, v. 18, n. 2, p. 34-49, 2022.

  • SANTILLI, Marcio. A importância da Amazônia na agenda climática global. Observatório do Clima, 2023. Disponível em: https://www.oc.eco.br. Acesso em: 29 abr. 2025.

  • SASSEN, Saskia. Expulsões: brutalidade e complexidade na economia global. São Paulo: Paz e Terra, 2018.

  • UNITED NATIONS. United Nations Framework Convention on Climate Change. New York: UN, 1992. Disponível em: https://unfccc.int. Acesso em: 29 abr. 2025.

 

 

  • Dra Zilda Maria A. Matheus
  • Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
  • E-mail: contat@naturoinstitute.org7