Ensaio Crítico sobre o Artigo “Evidências da Cultura Woke nas Práticas e Estratégias Organizacionais: Uma Perspectiva Interdisciplinar”

  • Dra Zilda Maria A. Matheus
  • Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
  • E-mail: contat@naturoinstitute.org7

Introdução

O artigo de Fernanda Barcelos Borges e Alex Sandro Quadros Weymer, intitulado Evidências da Cultura Woke nas Práticas e Estratégias Organizacionais: Uma Perspectiva Interdisciplinar, analisa as implicações da cultura Woke nas práticas e estratégias organizacionais contemporâneas.
A partir de uma abordagem interdisciplinar, os autores buscam evidenciar como movimentos sociais relacionados à justiça social, equidade racial e de gênero, entre outros, têm moldado as estruturas internas e as políticas externas de organizações corporativas.
Este ensaio crítico tem como objetivo refletir sobre a relevância do artigo, destacando tanto suas contribuições como suas limitações. Para tanto, será realizada uma análise sobre a profundidade do estudo e os resultados apresentados pelos autores, além de questionar alguns aspectos metodológicos e conceituais que podem enriquecer a discussão sobre a influência da cultura Woke no contexto organizacional.

Contribuições do Artigo
O artigo traz uma valiosa contribuição ao abordar a cultura Woke dentro das práticas empresariais, um campo que tem sido amplamente discutido no cenário social, mas pouco explorado do ponto de vista organizacional.
Ao focar nas mudanças que a cultura Woke tem gerado nas estratégias corporativas, os autores trazem uma visão inovadora que vai além da análise superficial, buscando entender como o movimento social afeta diretamente o comportamento das empresas.
Uma das principais qualidades do artigo é sua abordagem interdisciplinar, que permite uma análise ampla das implicações sociais, políticas e econômicas da cultura Woke. Ao integrar conceitos de psicologia organizacional, gestão de pessoas, e ciências sociais, o estudo amplia a compreensão das práticas de diversidade e inclusão no ambiente corporativo, mostrando como tais práticas são moldadas por uma agenda de justiça social.
Outro ponto positivo é a análise das estratégias organizacionais, em especial a maneira como as empresas estão ajustando suas políticas internas para promover um ambiente mais inclusivo.
A ênfase nas práticas de treinamento de diversidade, recrutamento inclusivo e responsabilidade social corporativa é particularmente relevante para os gestores e líderes de organizações que buscam se adaptar às novas exigências da sociedade.

Limitações e Pontos de Crítica
Embora o artigo apresente uma análise relevante, os autores sugerem que todas as organizações estão adotando as mesmas estratégias. O que não confere com a realidade corporativa das empresas por serem bem diversas, pois dependem do setor de atuação, da localização geográfica da cultura empresarial bem como do tamanho da organização. Portanto, uma análise mais detalhada de diferentes tipos de organizações poderia oferecer uma visão mais completa sobre o impacto da cultura Woke.
Além disso, a abordagem quantitativa e qualitativa do estudo, embora válida, poderia ser mais robusta em termos de coleta de dados. A pesquisa parece depender principalmente de entrevistas e questionários aplicados a um número restrito de organizações, o que limita a generalização dos resultados. A inclusão de um maior número de empresas, com foco em diferentes regiões e setores, poderia enriquecer a análise e tornar as conclusões mais representativas.
Outro aspecto que poderia ser mais explorado refere-se ao impacto da cultura Woke em organizações não ocidentais. O artigo concentra-se em empresas ocidentais, sem abordar como a cultura Woke é recebida ou adaptada em contextos culturais não ocidentais. A globalização das práticas organizacionais implica que a cultura Woke não afeta somente o mercado norte-americano ou europeu, e uma análise mais aprofundada sobre a adoção dessas práticas em outros contextos culturais seria fundamental.

Relevância para a Discussão Atual
Apesar das limitações, o artigo se destaca por ser uma das poucas pesquisas que aborda a influência da cultura Woke nas organizações de forma profunda e interdisciplinar. A relevância do tema é inegável, considerando o atual contexto social e político, em que as questões relacionadas à justiça racial, igualdade de gênero, e direitos LGBTQ+ têm ganhado força no debate público e, consequentemente, nas agendas empresariais.
Com a crescente demanda por diversidade e inclusão, empresas de diferentes segmentos têm sido pressionadas a adotar práticas que atendam a essas expectativas. O estudo de Borges e Weymer contribui para esse debate ao evidenciar como as organizações podem não apenas responder a essas demandas sociais, mas também como elas são moldadas por uma agenda de justiça social que visa a transformação estrutural.

Conclusão
Em suma, o artigo de Fernanda Barcelos Borges e Alex Sandro Quadros Weymer oferece uma análise valiosa sobre a cultura Woke nas organizações, destacando o impacto dos movimentos sociais nas estratégias corporativas.
Embora o estudo apresenta limitações, como a falta de profundidade na análise de contextos organizacionais diversos e a generalização dos resultados, ele contribui de maneira significativa para a compreensão de como as práticas de diversidade e inclusão estão moldando o cenário organizacional contemporâneo. A pesquisa propõe reflexões importantes para gestores e acadêmicos que buscam entender o papel da cultura Woke nas organizações e suas implicações no futuro do mercado de trabalho.

Referências
BORGES, Fernanda Barcelos; WEYMER, Alex Sandro Quadros. Evidências da Cultura Woke nas Práticas e Estratégias Organizacionais: Uma Perspectiva Interdisciplinar. Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, 2023.