Resenha Crítica: Questões Ambientais na Amazônia e o Diálogo com a Interculturalidade

  • Dra Zilda Maria A. Matheus
  • Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
  • E-mail: contat@naturoinstitute.org7

 

A série de livros Questões Ambientais na Amazônia, organizada por Cyro de Barros Rezende Filho e Maria Dolores Alves Cocco, apresenta uma análise abrangente sobre os desafios ambientais enfrentados na região amazônica, uma das áreas mais importantes e vulneráveis do planeta. Ao reunir contribuições de diversas disciplinas e perspectivas, a obra promove um panorama rico sobre a relação entre meio ambiente, comunidades locais e os impactos do desenvolvimento econômico, traçando um quadro complexo e essencial para compreender as questões que moldam o futuro da maior floresta tropical do mundo.

Perspectiva Ambiental e Interculturalidade

A obra destaca o papel crucial das comunidades locais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que coexistem com o ecossistema amazônico e cujas culturas estão intrinsecamente conectadas à biodiversidade da região. Essa conexão ressalta a importância da interculturalidade como um prisma interpretativo. A interculturalidade, aqui compreendida como a interação e troca entre culturas com base no respeito e na reciprocidade (WELLS; LOUREIRO, 2019), é essencial para enfrentar os dilemas ambientais e propor soluções sustentáveis que respeitem os saberes tradicionais e os direitos dessas populações.

Amazônia e Interculturalidade: Um Olhar Teórico

O conceito de interculturalidade, fundamentado em autores como Catherine Walsh (2009) e Boaventura de Sousa Santos (2007), enfatiza a necessidade de um diálogo entre epistemologias, incluindo as provenientes dos povos originários, que possuem conhecimentos ancestrais sobre a floresta. Por meio dessa abordagem, a série Questões Ambientais na Amazônia se alinha a debates globais sobre justiça ambiental e justiça cognitiva, promovendo o reconhecimento de que não há uma solução única para os problemas ambientais da região, mas sim um mosaico de práticas e saberes que devem ser considerados.
A Amazônia, como ressalta Rezende Filho (2022), é mais do que um bioma; é um espaço de encontro entre diferentes visões de mundo. Sob essa lente, a interculturalidade emerge como um conceito-chave para enfrentar os desafios impostos pela exploração predatória e pelas políticas públicas insuficientes. O enfoque intercultural propõe, portanto, uma leitura crítica sobre os impactos do desenvolvimento na floresta, apontando para a necessidade de políticas que combinem ciência moderna com os saberes locais.

Contribuições para o Campo Científico

Além de trazer à tona dados sobre desmatamento, degradação ambiental e mudanças climáticas, a série enfatiza o papel dos movimentos sociais e das organizações locais em preservar a floresta. Essa abordagem reflete os princípios da ecologia política, que destaca a relação entre poder, território e meio ambiente (ESCOBAR, 1999). A inclusão dessas perspectivas demonstra como as tensões entre interesses econômicos e direitos culturais e ambientais têm profundas implicações para a sustentabilidade da Amazônia.
Conclusão
A obra Questões Ambientais na Amazônia oferece uma contribuição valiosa para a literatura científica e para o debate público, enfatizando a importância de estratégias interculturais para a conservação da floresta. Ao estabelecer um diálogo entre diferentes culturas e epistemologias, ela reforça a relevância de abordagens colaborativas e holísticas. Essa perspectiva não apenas ilumina os desafios da Amazônia, mas também aponta caminhos para um futuro onde o desenvolvimento respeite a diversidade cultural e natural.
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Referências Bibliográficas

● ESCOBAR, Arturo. Territories of Difference: Place, Movements, Life, Redes. Durham: Duke University Press, 2008.
● REZENDE FILHO, Cyro de Barros; COCCO, Maria Dolores Alves (orgs.). Questões Ambientais na Amazônia. 1. ed. Curitiba: CRV, 2018. 248 p. ISBN 978-85-409-0357-4.
● SANTOS, Boaventura de Sousa. Epistemologies of the South: Justice Against Epistemicide. Boulder: Paradigm Publishers, 2007.
● WALSH, Catherine. Interculturalidad, Estado y Sociedad: Luchas (de)coloniales de nuestra época. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2009.
● WELLS, Lilian; LOUREIRO, Carlos Frederico. “Educação ambiental crítica e interculturalidade: aproximações possíveis.” Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 14, n. 2, p. 35-47, 2019.