O Sacrifício Feminino em Gênesis 19: Uma Análise da Subordinação, Hospitalidade e Resistência Feminina

  • Dra Zilda Maria A. Matheus
  • Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
  • E-mail: contat@naturoinstitute.org7

 

Resumo:

Este ensaio examina o episódio de Gênesis 19, que narra o sacrifício das filhas de Ló em nome da hospitalidade, como uma representação da subordinação feminina no contexto religioso e cultural. A análise se expande para discutir a hospitalidade na teologia e nas ciências sociais, destacando a prevalência das práticas patriarcais e seus impactos sociais e psicológicos nas mulheres. A pesquisa também explora as respostas femininas à subordinação, incluindo movimentos feministas e outras formas de resistência ao patriarcado. Através dessa análise, busca-se redefinir a hospitalidade como um espaço de igualdade e dignidade para todos os seres humanos, independentemente de gênero.
Palavras-chave: Gênesis 19, subordinação feminina, hospitalidade, patriarcado, resistência feminina, violência de gênero, teologia, ciências sociais.
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Introdução

A narrativa bíblica em Gênesis 19, que descreve Ló oferecendo suas filhas virgens para proteger seus hóspedes, serve como uma metáfora poderosa para a subordinação feminina nas culturas patriarcais. Este ato de sacrifício não é apenas uma alegoria, mas uma ilustração prática da desvalorização histórica das mulheres. Essa narrativa, como aponta Emmanuel Levinas em Totalité et infini (1961, p. 56), evidencia como os princípios de hospitalidade podem ser distorcidos quando a dignidade feminina é secundarizada.
A hospitalidade, nesse contexto, é instrumentalizada para manter normas sociais, mesmo às custas da segurança das mulheres. Judith Butler também argumenta que, historicamente, práticas como essas reforçam a precariedade da vida das mulheres em estruturas patriarcais (Precarious Life, 2004, pp. 12-15).
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A Subordinação das Mulheres: Análise de Gênesis 19

Em Gênesis 19, o ato de Ló ao entregar suas filhas aos homens de Sodoma perpetua uma forma de hospitalidade que sacrifica a segurança feminina em prol da honra masculina. Esse episódio bíblico reflete as dinâmicas patriarcais que, como observado por hooks (Feminism is for Everybody, 2000, p. 24), ainda moldam a maneira como as mulheres são tratadas em muitas sociedades contemporâneas.
Adicionalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (2017, p. 11), uma em cada três mulheres no mundo é vítima de violência física ou sexual, o que ilustra a persistência de estruturas culturais que veem as mulheres como propriedades ou mercadorias sacrificáveis. Essa violência de gênero, como discutido por Audre Lorde em Sister Outsider (1984, p. 45), está profundamente enraizada em sistemas que priorizam a autoridade masculina e a honra familiar em detrimento da autonomia das mulheres.
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Impactos Psicológicos e Sociais da Subordinação Feminina

Os impactos psicológicos dessa subordinação são devastadores. Mulheres que enfrentam violência de gênero frequentemente lidam com transtornos como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (Bales, Disposable People, 2004, pp. 92-95). Essa realidade é reforçada por representações culturais que desumanizam as mulheres, limitando sua liberdade e agência (hooks, 2000, p. 32).
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Respostas Femininas à Subordinação: Movimentos de Resistência

Movimentos como o #MeToo demonstram como as mulheres têm resistido à opressão, expondo as dinâmicas de poder que perpetuam o abuso. Butler (2004, p. 30) enfatiza que esses movimentos são cruciais para redefinir a vulnerabilidade feminina como força, promovendo mudanças estruturais nas relações de gênero.
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Conclusão: Redefinindo a Hospitalidade e Promovendo a Igualdade

A análise de Gênesis 19, à luz da violência de gênero, revela que a hospitalidade precisa ser reformulada como um espaço de respeito mútuo e igualdade. Como apontam Levinas (1961, p. 78) e Butler (2004, p. 45), a verdadeira hospitalidade deve garantir que ninguém, especialmente as mulheres, seja visto como sacrificável.
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Referências

● Bales, K. (2004). Disposable People: New Slavery in the Global Economy. University of California Press.
● Butler, J. (2004). Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence. Verso.
● hooks, b. (2000). Feminism is for Everybody: Passionate Politics. South End Press.
● Levinas, E. (1961). Totalité et infini. Martinus Nijhoff.
● Lorde, A. (1984). Sister Outsider: Essays and Speeches. Crossing Press.
● World Health Organization. (2017). Violence Against Women Prevalence Estimates, 2018.