Hospitalidade e Inospitalidade na Crise Contemporânea

A hospitalidade, como valor essencial para as relações humanas, simboliza acolhimento, reciprocidade e empatia. No entanto, em um mundo contemporâneo marcado por crises sociais, culturais e políticas, esse conceito enfrenta desafios significativos.
A globalização, que conecta pessoas e culturas, também intensifica desigualdades e polarizações, criando um terreno fértil para a inospitalidade. Esta, por sua vez, não se limita à ausência de acolhimento, mas reflete uma postura ativa de recusa ao outro, que pode ser percebida na exclusão social, no preconceito e na mercantilização das relações humanas.
No plano individual, a inospitalidade fragiliza os laços interpessoais, promovendo isolamento e alienação. A crescente desconfiança e o individualismo exacerbado dificultam a empatia e o senso de comunidade, tornando as conexões humanas mais superficiais. No âmbito social, as práticas de exclusão, como xenofobia e discriminação contra refugiados e minorias, agravam desigualdades e alimentam a polarização. Além disso, a hospitalidade é frequentemente reduzida a um serviço comercial, esvaziando seu significado ético e genuíno.
Os impactos emocionais e psicológicos da inospitalidade também são profundos. A rejeição e a exclusão contribuem para problemas como ansiedade, depressão e isolamento, tanto para quem sofre quanto para quem pratica a inospitalidade. Por outro lado, essa dinâmica reflete uma crise interna de identidade, na qual o indivíduo luta para se afirmar, mas acaba perpetuando atitudes que reforçam a desconexão e o afastamento.
Superar essa crise exige resgatar a hospitalidade como um compromisso ético e social. Isso implica promover valores como empatia, respeito à diversidade e solidariedade. Políticas públicas inclusivas podem desempenhar um papel crucial, implementando ações que favoreçam a integração de populações marginalizadas. Da mesma forma, a educação deve incentivar o diálogo intercultural e a ética do cuidado, preparando novas gerações para construir relações mais acolhedoras e humanas.
Portanto, a inospitalidade é um reflexo das fragilidades contemporâneas, mas também um ponto de partida para transformações. Resgatar a hospitalidade em sua essência pode ajudar a reconstruir laços sociais, promover um ambiente mais solidário e equilibrar as relações humanas em uma sociedade global cada vez mais complexa.

Dra. Zilda Maria A. Matheus
Doutora em Ciências da Comunicação (Turismo) pela ECA/USP, Pesquisadora no Naturo Academic Research Institute.
E-mail: contato@naturoinstitute.org