Resenha Crítica de “Cidades para Pessoas” de Jan Gehl

Jan Gehl (nascido em 1936, em Copenhague, Dinamarca) é um renomado arquiteto e urbanista, reconhecido por seu foco em cidades sustentáveis e centradas nas pessoas. Ele se destacou com obras como Life Between Buildings (1971) e Cities for People (2010), que defendem o planejamento urbano que priorize pedestres, ciclistas e a interação social. Suas ideias inspiraram projetos em cidades como Nova York, Melbourne e Copenhague. Gehl também fundou a consultoria Gehl Architects, especializada em design urbano humano e sustentável.

“Cidades para Pessoas” é uma obra fundamental do arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, que reflete sobre o papel do design urbano na construção de cidades mais humanas e sustentáveis. Publicado originalmente em 2010, o livro oferece uma análise detalhada sobre como as cidades podem ser repensadas para priorizar o pedestre e o ciclista, em oposição ao modelo tradicional centrado nos carros. Gehl propõe que a qualidade de vida urbana depende de um design que contemple a interação social, a acessibilidade e a sustentabilidade.
Gehl começa abordando a crescente urbanização global e seus efeitos negativos, como a exclusão social, o caos no trânsito e a degradação ambiental. Em seguida, ele introduz a ideia de que o urbanismo deve ser voltado para as pessoas, destacando a importância de ambientes urbanos onde as pessoas possam caminhar e se conectar com o espaço ao seu redor, sem a constante pressão dos carros. Ele defende a criação de “cidades para pessoas”, onde o espaço público é projetado para ser acessível, seguro e estimulante, incentivando as interações sociais e o bem-estar.

Pontos Fortes:
1. Visão Holística do Design Urbano: Gehl se destaca por sua abordagem integrada, que considera os aspectos sociais, ambientais e econômicos do planejamento urbano. Ele sugere que mudanças simples, como aumentar a área para pedestres, melhorar a iluminação pública ou adicionar mais vegetação, podem transformar um ambiente urbano, tornando-o mais acolhedor e sustentável.
2. Exemplos Práticos e Dados Reais: A obra é enriquecida com exemplos práticos de diversas cidades ao redor do mundo que implementaram as ideias propostas por Gehl. De Copenhague a Melbourne, o autor compartilha estudos de caso que demonstram a eficácia de suas ideias, especialmente na melhoria da mobilidade e na redução de poluição urbana.
3. Foco na Inclusão e Sustentabilidade: O livro tem uma forte ênfase em tornar as cidades mais inclusivas, criando espaços que atendam às necessidades de diferentes grupos sociais, incluindo idosos, crianças e pessoas com deficiência. A preocupação com a sustentabilidade também é um ponto central, com Gehl defendendo a criação de cidades que possam resistir aos desafios da mudança climática e da escassez de recursos.

Limitações:
1. Desafios de Implementação: Embora Gehl forneça uma visão clara e convincente de como as cidades podem ser transformadas, ele não entra em detalhes suficientes sobre os desafios práticos de implementação. As soluções propostas podem ser difíceis de aplicar em cidades com realidades socioeconômicas e políticas distintas, especialmente em países em desenvolvimento onde a infraestrutura e os recursos podem ser limitados.
2. Falta de Análise Profunda de Custos: O autor não aborda amplamente os custos envolvidos na reconfiguração das cidades para se tornarem mais amigáveis ao pedestre. Embora ele mencione a necessidade de investimentos em infraestrutura, uma análise mais detalhada dos custos e da viabilidade econômica de tais mudanças poderia enriquecer ainda mais o livro.

Conclusão:
“Cidades para Pessoas” é uma leitura essencial para urbanistas, arquitetos, policymakers e qualquer pessoa interessada em repensar o futuro das cidades. A obra de Gehl oferece uma abordagem centrada no ser humano, destacando que a verdadeira sustentabilidade urbana não pode ser alcançada sem considerar as necessidades e o bem-estar das pessoas que vivem nas cidades. Apesar de algumas limitações na discussão sobre os desafios práticos de implementação, a obra serve como um guia valioso para a criação de ambientes urbanos mais saudáveis, acessíveis e sustentáveis.
Este livro é altamente recomendável para quem deseja entender como o design urbano pode ser uma ferramenta poderosa para resolver os desafios urbanos contemporâneos e construir cidades mais inclusivas para as futuras gerações.

Destaques no Brasil
No Brasil, alguns estudiosos e autores têm contribuído significativamente para os debates sobre urbanismo, planejamento urbano e sustentabilidade. Entre eles:
1. Raquel Rolnik
● Perfil: Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), urbanista e ex-relatora especial da ONU para o Direito à Moradia.
● Obra Destaque: “A Cidade e a Lei: Legislação, Política Urbana e Territórios na Cidade de São Paulo” (1997). Neste livro, Rolnik analisa como as políticas urbanas impactam o uso e a ocupação do solo, com foco em São Paulo, mas com reflexões aplicáveis a outras cidades.
● Relevância: Ela aborda questões como exclusão social, especulação imobiliária e o direito à cidade, além de propor alternativas para uma urbanização mais inclusiva.
2. Hermínio Santos
● Perfil: Urbanista e professor, autor de diversos livros sobre planejamento urbano e o papel das cidades no contexto da modernidade.
● Obra Destaque: “Planejamento Urbano no Brasil” (2001). A obra explora os desafios do urbanismo no país, desde questões históricas até soluções contemporâneas.
● Relevância: Santos reflete sobre os processos de urbanização e suas implicações sociais, propondo caminhos para políticas públicas mais eficientes e sustentáveis.
Outros Nomes Relevantes:
● Erminia Maricato: Especialista em habitação e planejamento urbano, autora de “O Impasse da Política Urbana no Brasil” (2011).
● Claudio Acioly: Pesquisador com ênfase em habitação e planejamento sustentável, atuante em organizações internacionais.
Esses autores são referência no Brasil por seus estudos sobre os desafios urbanos contemporâneos e suas propostas para a construção de cidades mais inclusivas e sustentáveis.
____________________-